domingo, 8 de maio de 2011

A ver navios

A primeira vez que li este poema, andava eu grávida de muitos meses e fiquei pasma ao constatar que alguém, e além de tudo um homem, conseguia traduzir em palavras tão exatamente a sensação que eu sentia ao conduzir meu próprio corpo. Eu era um cargueiro prestes a adernar. Apesar de sempre ter lido muito Drummond, ainda não tinha descoberto este poema. Acho-o de uma sensibilidade extrema. E aproveito o dia das Mães para dar a oportunidade a mais alguma que queira identificar-se com navios prenhes de esperança.
foto do filme "Terra estrangeira" de Walter Salles e Daniela Thomas.
«Sorrimos para as mulheres bojudas que passam como cargueiros adernando,
sorrimos sem interesse, porque a prenhez as circunda.
E levamos balões às crianças que afinal se revelam,
vemo-las criar folhas e temos cuidados especiais com sua segurança,
porque a rua é mortal e a seara não amadureceu.
Assistimos ao crescimento colegial das meninas e como é rude
infundir ritmo ao puro desengonço, forma ao espaço!
Nosso desejo, de ainda não desejar, não se sabe desejo, e espera.
Como o bicho espera outro bicho.
E o furto espera o ladrão.
E a morte espera o morto.
E a mesma espera, sua esperança.»
(...)
("Ciclo", de Carlos Drummond de Andrade - A vida passada a limpo.)

7 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Quando este homem é Drummomnd,fica explicado...escolheu bem o poema,a imagem...bela crônica, Rejane...
Fiquei pasma, também Rejane, de encontrar uma Rejane Paiva,por acaso, na busca de um dedal.
"Pedi" foto de um dedal, ao google, e vim parar no seu O rastro do caracol.
Quero fazer uma postagem, sobre DEDAL,mas só tenho a foto que tirei do meu "filho único" que pertenceu a uma tia.
Salvei algumas, da suas, e pretendo usá-las:permita-me. Darei os devidos créditos rsrs.
Rejane Paiva, é também o nome de uma querida prima.

O rastro do caracol me atraiu e já me instalei, de "mala e cuia", vim Da Cadirinha de Arruar...
Um abraço

Rejane Paiva disse...

Olá, Lúcia. Passei para conhecer o seu blog e agradecer a simpática visita ao meu. Os dedais são apaixonantes, não? As fotos que postei são algumas minhas (mãos bordando) e as outras, a maioria, tiradas de sites de venda on-line de dedais, ou mesmo de antiquários que anunciam na net. Estas já lhes perdi o rastro. As minhas podem ser usadas, sem problemas. As outras, nem imagino.
Pois é. TEmos um sobrenome em comum. Estive em Castelo de Paiva - Portugal, de onde partiram os Paivas que foram para o Brasil. Naquela região produzem vinhos e queijos maravilhosos! Certamente nossas origens andam por lá.
Um abraço e seja sempre benvinda.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Bom dia, Rejane.Voltei para agradece-lhe, o tão delicado retorno seu. Ainda uso meu único dedal que restou, dos muitos que existiam quando eu menina.São tão mimosos...Vou usar, alguns dos seus e o meu, na postagem que farei.
Estou feliz, em conhecê-la.Sou membro da Comunidade do Castelo de Paiva. Estive no Porto, Portugal, passei pelo rio Paiva mas não fui ao Catelo de Paiva. Ainda pretendo conhecer a terra de
nossas origens.
Beijinhos

Unknown disse...

Rejanamiga

A Lúciamiga já disse tudo sobre o Drummond. Tive a honra e o prazer de o ter conhecido e com ele conversar umas quantas vezes. Jornalista é assim, que se lhe há-de fazer...

Atenção, querida Rejane, Castelo de Paiva é terra de encantamentos, de magia e de comida e bebida excelentérrimas. Se és dos Paivas de Castelo de Paiva, tens de cozinhar bem e quero provar... por imeile ou imilio (primorosas criações cá deste rapaz a caminho dos setenta...

Depois, eu digo se me soube bem; cuidado, peso mais ou menos 119,8 quilitos...

A Lúciamiga é um espantoooooo como diria o Jô Soares. Boa Amiga que manda xêros para mim e para a Raquel, que ela cognominou de Kel

Qjs = queijinhos = beijinhos

Inaie disse...

adoro o rastro do caracol...

e Drummond e tudo de bom nesse mundo!

Rejane Paiva disse...

Caro Antunes Ferreira,
Conversar com Drummond é privilégio para poucos. Isso faz de si um homem invejável! Obrigada pela visita. Sim, Castelo de Paiva é realmente uma terra de encantamentos. Não sei se sou uma herdeira legítima de lá, afinal, nunca tive a mesma dedicação da Lúcia para estudar genealogia. Mas se cozinhar bem é um sintoma dessa herança, talvez eu tenha alguma ascendência no local. Infelizmente só há relatos de suspeitos acerca deste quesito. Cá entre nós, acho que foram os anos que morei em Portugal e o casamento com um patrício seu - excelente cozinheiro, que me fizeram tomar gosto pela culinária. Fico lhes devendo essa!

Inaie disse...

amei seu comentario la no meu espacinho hoje...voce me fez sorrir...de novo!!

Bjos